Danilo Ribeiro: Capixaba de bons ventos

O glamour que cerca as famosas festas do Iate Clube do Espírito Santo, Ices, poderá ser esquecido quando, em 2012, uma promissora velejadora capixaba embarcar rumo a Londres. O maior clube náutico do Estado sempre esteve mais presente nas páginas sociais do que nas de esportes, porém, Odile Ginaid, 24, integrante da Equipe Permanente de Vela Olímpica 2010 e líder do ranking brasileiro da classe Laser Radial, espera com muita dedicação participar das próximas Olimpíadas e trazer reconhecimento a um estado praticamente esquecido pelos esportes de alto desempenho.

Nascida em 31 de março de 1986, a velejadora faz parte de uma geração de atletas que encontra no esporte uma fonte de renda, mas não abandona os estudos. Apesar de jovem, Odile já é dona de dois diplomas de Administração – sendo um pela Universidade Federal do Espírito Santo, Ufes, e outro pela Fucape, onde conquistou bolsa por ser a melhor aluna da turma – e, entre um treino, uma viagem ou uma competição, encontra tempo para fazer MBA em Gerenciamento de Projetos na Fundação Getúlio Vargas, FGV.

No mar desde os oitos anos, a capixaba sempre conviveu com uma apertada agenda. De manhã, fazia aulas de natação e velejava, sempre no Ices. Tomava banho no próprio Clube e saía de uniforme de escola, passando em casa apenas para almoçar. Sempre envolvida com esportes mesmo nos dias em que não velejava, Odile Ginaid chegou a fazer inglês, jogar tênis e vôlei, e tocar piano clássico e flauta. No entanto, com os anos sem praticar a música, hoje ela ri ao dizer que não sabe mais sequer ler uma partitura.

A agitada infância teve uma personagem muito importante para a formação da atleta. Na mãe, ela encontrou o incentivo que precisava. Não tinha corpo mole e nem adiantava bater o pé. Nos dias de chuva ou de frio, a mãe sempre a levava para as aulas. Por experiência própria, Odile considera o apoio da família a chave para o interesse da criança no esporte. Nos cincos anos em que deu aulas de iatismo, constatou que mais crianças concluem o curso quando estão acompanhadas dos pais.

Carreira

Como toda criança que inicia no iatismo, o primeiro barco de Odile Ginaid foi um Optimist. Ainda muito nova e sem dedicação exclusiva à vela, ela não obteve resultados expressivos a nível nacional. O importante era competir, experimentar de tudo e decidir em qual esporte tem mais aptidão. Quando completou 15 anos e se viu obrigada a mudar de classe, a capixaba – que já era apontada como jovem promessa – foi convidada pela Federação a testar todos os tipos de barco para decidir em qual categoria ficaria. Ela decidiu pelo Laser.

Bronze no sulamericano (2010)

Na antiga classe do ídolo Robert Scheidt, com quem inclusive já disputou vários campeonatos, a atleta reduziu alguns problemas que poderia enfrentar em outras classes, como, por exemplo, a necessidade de um parceiro. O Laser é um dos barco individuais para adultos. No entanto, um entrave foi constatado: Odile Ginaid sempre esteve abaixo do peso ideal para a classe (68 kg). Então, em 2008, mudou e foi competir de Match Race, classe em que ganhou alguns importantes títulos.

O retorno ao Laser aconteceu na disputa do Campeonato Brasileiro 2010. Correndo apenas para prestigiar o evento que foi realizado nas águas capixabas, Odile ficou com o vice-campeonato e uma pontinha de otimismo encheu o peito da laserista, que decidiu encarar o desafio de vez. Além de carregar a tocha dos Jogos Pan-americanos, na edição do Rio de Janeiro em 2007, a capixaba vestiu o uniforme do Brasil e subiu no pódio nos Jogos Sulamericanos 2010, na Colômbia. Entre muitos outros títulos, ela é tetracampeã do Sudeste Brasileiro, campeã da Semana Internacional de Vela do RJ e há oito anos é campeã do Estadual do ES.

Reconhecida e vencedora, patrocinada pela Prefeitura de Vitória, pelo Governo do Estado e pelo Iate Clube do Espírito Santo, a atleta conhece quatro continentes e 16 países. Ela é um exemplo de esportista de sucesso para os capixabas que dizem ter nascido em um estado pobre de resultados nacionais e internacionais. Mesmo com dois diplomas e fazendo pós-graduação, Odile Ginaid pode afirmar ser uma atleta e não uma administradora.